torto arado
Torto arado
Cabo de marfim fincado no solo, cheiro legitimo de terra
Mato verde nas narinas, caminho até a escola
Essas letras no quadro verde, lousa verde, casa de cor verde Não narram minha história.
Quilombos, quilombolas, quilombos, quilombos
Prefiro sentir no corpo as lições que a vida da Essa terra úmida pede para parir.
cordão umbilical ligado a tudo que me fez barro como ídolo mudo sem serventia, virar pó em suas mãos o patriarcado não me oprime enquanto empunho a espada de Donana pai mãe e filha roda de encantados a sede de poder secou o pote que de barro se quebrou
um lenço sobre minha cabeça, penso em nossa terra usurpada vencida vendida meus olhos procuram ver claramente minha língua golpeada não fala enganosamente continuo com o pescoço reto em dura cerviz os meus ombros são largos para suportar as agruras sinto a interferência na minha medula como cristais meu peito como um torto arado, busca de uma direção minhas entranhas e coração pulmão e rins cumprir suas devidas funções meus braços e mãos empunham a espada de marfim com tanta dor frutificou meu amor
dentro da propriedade minhas pernas e pés correm e não se cansa caminha e não desfalece a terra me puxa para baixo, terra vendida cercada comprida como a terra não é minha faço dela vida Eva e comida.
(Pericles melo)