Intervalo
Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado —
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?
Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?
Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?
Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?
Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca —
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.
Comentários
admin
4ª, 28/11/2012 - 02:08
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O sonho sem corpo ou boca em que a sonhaste
Um belo Poema do Pessoa muito bem declamado. Gostei muito do poema, que desconhecia.
Parabéns!
ronilda davidlo...
Sáb, 15/12/2012 - 13:55
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Maravilhoso!
O Pessoa revive com extrema intensidade e sentidos nessa soberba DECLAMAÇÃO.
Cada palavra adquire mais calor, e é quase como se estivessemos ao pé de ambos os poetas.
Minhas Congratulações!
E grata por partilha tão rica.