Geral

amo-te

Na colina sobranceira de tua casa, aí me encontro. Eu, o vento, que geme na negra noite. Mesmo junto a ti, tu não me vês, e é onde passo o dia-a-dia. Esse teu trágico olhar, a olhar-me e sem me ver. Ai quem me dera ser como tu, para me poderes ver, e para te poder murmurar a mais suave das palavras, "AMO-TE".

esperança

Rodeado apenas pelo vento, vagueava pelas ruas da cidade. Em ambos os meus ouvidos permanecia a tua voz bradando convictamente sem cessar a palavra " NÃO ".
Uma imagem da tua sensual face, distorcida pelo tempo, iluminava o meu espírito que no seu mais íntimo ainda possuí uma débil esperança.

sonho

E no esplendor dum entardecer de verão, altas espigas de oiro ardente, reflectem a sensualidade da tua face, num dia ardente à beira-mar.
No sonho do momento, imaginas amplos voos sobre a trágica realidade que nos foi destinada.
E os teus olhos rasos de água, parecem lagos, onde cisnes brancos se banham, por entre a neblina de um amanhecer.

REPETIÇÃO EXISTENCIAL...

Já pensei muito, na vida,
hoje meu pensar parou,
pare de pensar, por favor,
pensar dispersa o sabor.

Já falei muito, na vida,
hoje meu falar parou,
pare de falar, por favor,
falar dispersa o amor.

Já calei muito, na vida,
hoje meu calar parou,
pare de calar, por favor,
calar dispersa o que for.

Já escrevi muito, na vida,
hoje meu escrever parou,
pare de escrever, por favor,
escrever dispersa o calor.

Setembros de Coimbra

Oh, setembro,
como te escapas
e eu ainda me lembro
do encanto de todas as capas.

Oh, tempo,
como passaste a correr.
Eu olho para dentro
e dou por mim a crescer.

Cresço, mas não em tamanho.
Deixo que as experiências me lavem o corpo
e, depois desse banho,
sou outro.

Crescido,
ainda que com alma de criança;
Falecido, amolecido, esquecido!
Uma triste lembrança...

tu

Estou na margem... Para lá do abismo.
Longe de mim ficaram os momentos que vivi à beira-mar. Mais longe, como uma visão, o teu rosto vindo do céu, esses lábios que não são do ser que nunca fostes e que eu beijei ao esquecer-me de beijar. Tua mão desdobra meus dedos, dobrados pelo tempo. Se o que sou não sinto, o que sinto e sou não importa.

Vinho de sangue

Dai-nos o tecido veludo nos olhos
Um momento a mais para por salivas
Com gosto vulgar na borda do cálice,
É como comparar uma prostituta a uma bebida má
Quando o vermelho escapa.

Ter no fundo do quarto escuro o mergulho dum livro
Que não diz fim nem começo.
A cópula sagrada
O redemoinho e o vento
Passagens estreitas a mundos distintos
Ver o gozo o gesto metido na atitude do ser mais velho.
Quando fazemos o que não está no escripte
É porque uma sombra do futuro
Invadiu a vida da alma pesada

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