Geral

Sem Título 48

houve uma ensinada tarde
em que a luz se esticava dentro de mim
 
agitava-se cruelmente longamente
e eu expandia sem parar
 
quando subi demasiado humano
por entre avenidas de escadas povoadas
vizualizava esquecidos sábios
quem seriam? quem serão? existirão?
depois da meditação sentado na última abóbada do planeta
descobri a diferença entre a palavra origem e proveniência
 
essas asas d’ouros em tudo bizarras

Sem Título 42

É-me inevitável!
Diariamente sou impelido
a dialogar lúcido com meus próprios medos,
esses medos têm medo de mim e eu deles
os medos têm aflitivamente medo de todos os medos,
dormem fraquejados na tosse de uns e de outros,
de todos...
Tomam-se, lassam-se, escorraçam-se!..
Quando os medos começam a respirar,
ralham-nos,
inflamam-nos,
dissolvem-nos,
impossibilitam-nos,
calcinam-nos...

Sem Título 41

Adiante o ritmo, depois e depois a dor!
Dor morta!...
Dor que faz de conta!...
Dor que anda morta!...
Dor que vira desnorte brasa de tanto praguejar!...
Dor que entre épocas canta ao bondoso ritmo!...
Ritmo que perdura nas docílimas plantas da nossa dor!
Dor que vive para procriar
o destino do ritmo por escorregar
como derretida cera
na consumada alma!
Adiante o ritmo, depois e depois a dor!
Admite,

Sem Título 40

Escolhi cortar os nervos das fissuras
para penetrar em meus olhos doirados
 
De uma ponta a outra recortei uma manta de lume
para os marnotos queimarem as grinaldas outrora tua presença
 
Teu belo corpo desmorona toda uma realidade
e o mármore liquida-se nos liames da alma
 
O mar fala-me, encarcera-me no volume
dum temperamento caprichoso
O mar esconde a treva que me espalha
 
Sei que já foste espuma de dálias

Pages