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Calou-se o monge: sepulchral silencio

Calou-se o monge: sepulchral silencio
Á sua voz seguiu-se. Uma toada
De orgam rompeu do côro. Assemelhava
O suspiro saudoso, e os ais de filha,
Que chora solitaria o pae, que dorme
Seu ultimo, profundo e eterno somno.
Melodias depois soltou mais doces
O severo instrumento: e ergueu-se o canto,
O doloroso canto do propheta,
Da patria sobre o fado. Elle, que o vira,
Sentado entre ruinas, contemplando
Seu avito esplendor, seu mal presente,
A quéda lhe chorou. Lá na alta noite,

O PSALMO.

Quanto é grande o meu Deus!.. Té onde chega
      O seu poder immenso!
Elle abaixou os céus, desceu, calcando
      Um nevoeiro denso.
Dos cherubins nas asas radiosas
      Librando-se, voou;
E sobre turbilhões de rijo vento
      O mundo rodeiou.
Ante o olhar do Senhor vacilla a terra,
      E os mares assustados
Bramem ao longe, e os montes lançam fumo,
      Da sua mão tocados.
Se pensou no Universo, ei-lo patente
      Ante a face do Eterno:
Se o quiz, o firmamento os seios abre,

Fervet amor

A conversa cahiu no casamento.
E defronte de nós, n'esse momento,
Noivava um par alegre de pardaes.

AO HOMEM

      Segundo as tradicções que vão sumir-se
      Na noite secular das priscas eras:
      Rugiram contra ti, Homem, as feras,
                  E as coleras do mar;
      Dos ceus revoltos os trovões e os raios;
      Qual reprobo vivias no universo
      Inerme, nu e só, na sombra immerso,
                  Sem Deus, sem luz, sem lar!...

A UM CERTO HOMEM

Agora és todo nosso: a rude voz da historia
Já póde hoje falar
E dar-te um balancete ás nodoas e á gloria
Rei-sol de _boulevard_.

Que dias d'esplendor! Porém como começa
A noite e a podridão!
Foi Deus que te mandou tambem para a Lambessa
Da eterna punição!

Enfarda a tua gloria e leva-a que é vergonha
Que vejam ámanhã,
Que até lhe depennou as aguias de Bolonha
O abutre de Sedan!

*LUTHERO*

Ah, és tu diabo?...
     (Lenda mouacal)

Luthero, o frade austero e macilento,
Encontrou a Satan dormindo um dia,
N'uma rua d'Erfurt, á ventania,
Envelhecido, calvo e vinolento.

Dorme! gritou-lhe o frade... a teu contento,
Guloso Pae da Indigistão, da Orgia!
Renunciaste as lições de theologia,
Ó velho corvo mau do Firmamento?!

O mundo como tu é calvo e velho;
A Egreja é o lupanar do Evangelho;
E tu ó ébrio, gulotão, descanças!?...

Poveiro

Poveirinhos! meus velhos pescadores!
Na Agoa quizera com vocês morar:
Trazer o lindo gorro de trez cores,
Mestre da lancha _Deixem-nos passar_!

Far-me-ia outro, que os vossos interiores
De ha tantos tempos, devem já estar
Calafetados pelo breu das dores,
Como esses pongos em que andaes no mar!

Ó meu Pae, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mail-Irmão do «Senhor de Mattozinhos»!

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