Meditação

Sem direito

Sem direito
Morreu sem direito a luto
Sem direito a velas
Sem direito a preces
Tudo isto porque morreu
Se vivo estivesse
No luto lutaria
Muitas velas acenderia
E uma prece rezaria
Mas morto está
Na memória de todos
Nas curvas da historia
No voo solitário da gaivota
Não luta mais
Não reza mais
Não voa mais
Mas pode ressuscitar
Dentro de uma garrafa cheia
De aguardente quente
De pensamento fumegante
De futuro insipiente

Relógio

Relógio
O tempo esqueceu de apontar
algumas coisas que já não me lembro mais
me parece que o tempo só aponta
coisas grandes e as pequenas deixa pra traz.
Por isso não uso relógio,
seus ponteiros se cruzam sem nada marcar
só avisam que chegou a hora
que já vai correndo embora
na tentativa somente de me apressar.
Acho que por isto não encontro meu tempo
por estar mergulhado nas coisas pequenas
amparo-me nelas como se verdadeiras,
e quando descubro que não sustentam
dou volta e meia pra trás

Vejo-te Daqui

Vejo-te daqui:
rodopiar essa saia bordada,
de linho já encardido
do suor de tanta trapalhada.
Que apesar de malfadada,
trazes sempre o sorriso vestido.
 
Vejo-te aí:
tu que soluças sem solução
abraçando o espaço vão.
Mas limpas as lágrimas à saia travada
e calças as botas famintas de tanta caminhada.
 
Vejo-me em ti:
pacifica tempestade
que luta na adversidade

Apoteose

Não me cabe escolher,

Não me cabe encolher.

Só encargo de não ser,

Será tarde para viver?

 

Pecado pela maldade,

Metade do que tenho dobrado.

Por todo lado onde sou levado,

Pela mão do próprio diabo.

 

Redenção, hipótese única de absolvição.

Meditação, simbiose com a música do coração.

Apoteose eufórica , simbólica comunhão,

Tradição folklórica acompanhada de acordeão.

 

 

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