Meditação

O VOO CREPUSCULAR

reduzo o balanço a imperiosos deveres e transversais leviandades.

 

transfiro-me para o lugar onde a fraude tem pruridos solidários.

 

a monotonia desloca o seu areal para a fronteira da imaginação.

 

estoirei o mural da apatia ao continuar por roteiros insalubres.

 

as palavras transitam para a razão que as estrutura em convicções.

ORDENAÇÕES POÉTICAS

as atoardas infiltram-se nos dizeres que brotam das leituras quotidianas.

 

a grosseria dos homens que se atolam nos seus próprios excrementos.

 

enxergo dentro dos copos toda a indigência do viver humano.

 

existem guerrilheiros contrafeitos reunidos a projetos fantasistas.

 

há um fervor na linguagem quando embebo referências corrosivas.

 

 

A TOADA MARGINAL

o pudor regateia nos antípodas duma vida tumultuosa.

 

o rescaldo duma era em que a sageza procura o átrio desprovido da lisura.

 

o hermético porvir exige o entroncamento das ideias numa consciência descritiva.

 

o autêntico bem-estar está no topo duma escadaria imaginária.

 

o exame impõe-se aos trinados da poesia caldeando a sua cozedura sublimada.

UM TRAJETO PENETRANTE

o poeta embarra na parede submersa da contrariedade e da desconsolação.

 

as gaivotas da liberdade perfuram a cerca dos costumes bradando mágoas incandescentes.

 

as palavras avultam no meio dos passageiros do barco grande que desmantela a tempestade.

 

há vocábulos que extirpam os estertores dirigindo-se ao tablado da originalidade.

 

o rol de acusações que se apuram em querelas escavas intentando expulsar a sensaboria.

PALAVRAS CONVERGENTES

a paródia similar à trouxa que boiasse nas águas repelentes dum escoamento.

 

a geometria dos acasos parece descobrir as concórdias e os amplexos ternurentos.

 

tudo o que se descobre no fulgir da emotividade provoca afagos que se hospedam na convivência.

 

os poetas embrulham os alvoroços desconhecendo como se abrandam as circunstâncias.

 

o escampado imenso é girado de afeto ou de consolação quando os cardos da lembrança me abandonam.

O NÚCLEO DA SOLIDÃO

a fragrância do homem que repuxa as vacarias até ao limiar da criação poética.

 

a alma saboreia o viver descalço que se estuda nas provações da meninice.

 

a mulher que se descobre nas ilhas fundas do amor urdindo pelejas ou amarrando a veemência.

 

os poemas eliminam as fragosidades que obstam ao crescimento da ilusão.

 

os paraísos que se manifestam na semeação de homens conscientes.

EU ORO

EU ORO

Eu oro, para que o sono chegue,

mas ele vem montado num jegue.

Meu coração não sossegue,

até que alguma coisa se ergue.

Eu oro, para eu ter um sossego,

e se livrar do morcego,

que minha vida morcega,

se me soltar...

Corro as léguas.

Eu oro, para que você goste,

mesmo errado aposte,

sem ficar parado feito um poste.

Isso é o que mais me desgoste.

Eu oro, para me despedir de você,

esperar o sol nascer,

e continuar a viver.

EU ORO!

 

Madalena Cordeiro

O CLARÃO ÉTICO

eternizam-se as desilusões daqueles que enfezam em calabouços invisíveis.

 

há gestores na penumbra de ideias fátuas que ultrajam as pessoas famintas.

 

na textura humana apuram-se contingências que desesperam.

 

quando o vulgar entendimento se transmuda em ideal.

 

a inconsciência estimula maneiras artísticas de protestar.

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