Meditação

O VOO CREPUSCULAR

ressoei dilemas agitados em gaiolas sensitivas.

 

verto os enleios duma farsa junto ao sucesso desabrido.

 

aqueles que nos violentam quando se colocam no centro de conflitos amovíveis.

 

os sentimentos esvoaçaram contra as falésias aguçadas das ilusões.

 

persigo o ritmo dum sonho espancado por olhares carrancudos.

O TUGÚRIO ESCALAVRADO

guardei as façanhas dentro dos copos que vou tirando de prateleiras reforçadas.

 

as palavras que o sol vitima nas querelas e falácias rotineiras.

 

os danos que a indulgência transporta para o lado da sensaboria.

 

um poeta brusco escava brechas por onde repuxa a liberdade.

 

neste mundo sombreado relevo as palmas oprimidas pelo acinte e pela inveja.

 

 

O USURÁRIO MALDITO

as cócegas triviais das fantochadas solidárias.

 

há poemas e cansaços numa mescla projetada em angústias renovadas.

 

o vitupério alonga-se até à praia dos costumes onde desfalece sem ressonância.

 

sustento uma esdrúxula amizade num comboio que não chega a partir.

 

agito clavas na vizinhança duma terminologia façanhuda.

O TIMBRE PARDACENTO

sou daqueles que reprimem os impulsos que ecoam o silêncio malvado.

 

os cardos que no meu torso estampei pelos socalcos de dolorosas vocações.

 

as presunçosas adversidades dum homem emergindo das suas convicções

 

transporto na bagagem os esboços das ideias e as fraudes dos modelos que inspirei.

 

as palavras foram vívidas no meio das agruras que a cárie sublinhou.

 

O PASSADIÇO CRUEL

a jornada começa num lugarejo que acolhe no seu ventre um menino perturbado.

 

pelas narinas da sua solidão vaguearam excentricidades.

 

a lua parece um trompete quando ele concebe um jardim e o atira para o centro do mundo.

 

os bêbados inspiram-no quando introduzem cervejas no arquejo do sofrimento.

 

as suas lições são ministradas nos redondéis quando a instrução o pretende encegueirar.

 

 

TELHADOS ALGÉBRICOS

reinvento as gravuras genuínas que ilustram os adágios tradicionais.

 

transferi o desafeto para poemas que transpuseram as ranhuras do saber.

 

encontrei os fundamentos das combustões que lavram pelos itinerários da humanidade.

 

o homem resumiu deus a um mero produtor de afagos mundanos.

 

morei dentro de cantigas que difundiam gemidos existenciais.

A BANDEJA LACRIMAL

o balcão manchado por aqueles que flutuam à volta do redondel existencial.

 

a razão busca o lugar severo donde possa afugentar os inimigos.

 

o aniquilamento da fé nos patamares álgidos onde se consolida a individualidade.

 

a hipocrisia é a maneira vulgaríssima de transverter a realidade.

 

quando a urdidura convoca as querelas e as dispõe sobre uma bandeja lacrimal.

 

 

 

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