Meditação

PALAVRAS CONVERGENTES

o visceral discernimento que me perturba quando o sobreponho à realidade.

 

somos a realidade impressa numa certidão desprendida no vendaval.

 

a propaganda ecoante do nacionalista requer as fráguas do destempero para aleitar os seus mitos.

 

as últimas sessões da viagem em torno de mim enfrouxeceram a configuração da inocência.

 

o carpido negligente, reforçado pelas gruas do sentimento, abriu o cadeado da fantasia.

A LARGURA DO ÓCIO

a morte consiste num episódio que administra o crescimento emocional.

 

a contrastante realidade apalpando sempre as ilusões que a estimulam.

 

a deliberação de sair à procura dos eventos que constroem as querelas.

 

a mentira embaraça as comunicações para se nutrir aonde o chão é adverso.

 

as páginas mudam-se em lágrimas que ressumbram nas toalhinhas da consciência.

O NÚCLEO DA SOLIDÃO

o raciocínio foi categorizado com palavras que eu vomitei persistentemente.

 

os poemas enfeitados com escarpas resultam numa paisagem individual.

 

os coriscos capturam a minha atenção nos labirintos de choques indecorosos que vou destampando.

 

a verdade sobrepõe-se aos dislates que expandem o temporal pelo oceano da frivolidade.

 

rebentam as mãos dos fundadores de conflitos se agarram na enxada e laboram.

 

 

A MÁGICA COMPOSTURA

as arremetidas impunes esclarecem as vertigens contemporâneas.

 

injeto a mocidade por cima dos recados que a tristificam.

 

transformo a obstinação no investimento que destampa as agruras.

 

os homens aprenderam a segmentar os reveses pungentes.

 

troquei as qualidades globais por um compasso emocional.

ORDENAÇÕES POÉTICAS

as paixões estendem-se por malignos veios de artifícios.

 

a obscenidade adeja sobre os escombros das comiserações.

 

recresce a ilusão quando a sabedoria tem pegadas de candura.

 

os provimentos do raciocínio jazem em sacos desprezados.

 

estou no centro duma felpuda miragem que agasalha o bem-estar.

As pessoas

As pessoas são diferentes,

As pessoas são aquilo que são quando estão conosco.

As pessoas são ainda mais aquilo que são quando não estão,

As pessoas são diferentes.

São diferentes na impressão, São diferentes na comparação.

As pessoas são aquilo que não mostram, o que não dizem, o que não fazem.

As pessoas são autocarros de passagem que levam diferentes rotas,

Mas partilham o destino.

As pessoas são pessoas, ninguém é de ninguém.

Nem a mim mesmo me pertenco.

As pessoas são estranhas pois são estranhas a elas mesmas.

A TOADA MARGINAL

a víbora é entronizada no matagal da solidão.

 

as palavras buscam o oásis nunca encontrado da comiseração.

 

as palavras que repulso estão no forno da angústia gerando versos fundamentais.

 

a sincronia das palavras com os compromissos que enriquecem os sermões.

 

a transumância das palavras faz-se por lugares estéreis ou depauperados.

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