Meditação

os fundamentos da alma

há trombas d´água investindo nas tubagens adjacentes aos caminhos abandonados onde as palavras resultam dum ócio glorificado quando as pautas chilram cantigas e o vento as leva para as serranias da agudeza.

 

há discórdia sobre todos os pontos duma matéria bolorenta que cruza os semáforos da cidade para se afundar no rio da comiseração quando a imperícia se desvia para reflexões que traumatizam os que procuram resistir aos tormentos.

 

O VOO CREPUSCULAR

reduzo o balanço a imperiosos deveres e transversais leviandades.

 

transfiro-me para o lugar onde a fraude tem pruridos solidários.

 

a monotonia desloca o seu areal para a fronteira da imaginação.

 

estoirei o mural da apatia ao continuar por roteiros insalubres.

 

as palavras transitam para a razão que as estrutura em convicções.

ORDENAÇÕES POÉTICAS

as atoardas infiltram-se nos dizeres que brotam das leituras quotidianas.

 

a grosseria dos homens que se atolam nos seus próprios excrementos.

 

enxergo dentro dos copos toda a indigência do viver humano.

 

existem guerrilheiros contrafeitos reunidos a projetos fantasistas.

 

há um fervor na linguagem quando embebo referências corrosivas.

 

 

A TOADA MARGINAL

o pudor regateia nos antípodas duma vida tumultuosa.

 

o rescaldo duma era em que a sageza procura o átrio desprovido da lisura.

 

o hermético porvir exige o entroncamento das ideias numa consciência descritiva.

 

o autêntico bem-estar está no topo duma escadaria imaginária.

 

o exame impõe-se aos trinados da poesia caldeando a sua cozedura sublimada.

UM TRAJETO PENETRANTE

o poeta embarra na parede submersa da contrariedade e da desconsolação.

 

as gaivotas da liberdade perfuram a cerca dos costumes bradando mágoas incandescentes.

 

as palavras avultam no meio dos passageiros do barco grande que desmantela a tempestade.

 

há vocábulos que extirpam os estertores dirigindo-se ao tablado da originalidade.

 

o rol de acusações que se apuram em querelas escavas intentando expulsar a sensaboria.

PALAVRAS CONVERGENTES

a paródia similar à trouxa que boiasse nas águas repelentes dum escoamento.

 

a geometria dos acasos parece descobrir as concórdias e os amplexos ternurentos.

 

tudo o que se descobre no fulgir da emotividade provoca afagos que se hospedam na convivência.

 

os poetas embrulham os alvoroços desconhecendo como se abrandam as circunstâncias.

 

o escampado imenso é girado de afeto ou de consolação quando os cardos da lembrança me abandonam.

O NÚCLEO DA SOLIDÃO

a fragrância do homem que repuxa as vacarias até ao limiar da criação poética.

 

a alma saboreia o viver descalço que se estuda nas provações da meninice.

 

a mulher que se descobre nas ilhas fundas do amor urdindo pelejas ou amarrando a veemência.

 

os poemas eliminam as fragosidades que obstam ao crescimento da ilusão.

 

os paraísos que se manifestam na semeação de homens conscientes.

EU ORO

EU ORO

Eu oro, para que o sono chegue,

mas ele vem montado num jegue.

Meu coração não sossegue,

até que alguma coisa se ergue.

Eu oro, para eu ter um sossego,

e se livrar do morcego,

que minha vida morcega,

se me soltar...

Corro as léguas.

Eu oro, para que você goste,

mesmo errado aposte,

sem ficar parado feito um poste.

Isso é o que mais me desgoste.

Eu oro, para me despedir de você,

esperar o sol nascer,

e continuar a viver.

EU ORO!

 

Madalena Cordeiro

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