Meditação

As pessoas

As pessoas são diferentes,

As pessoas são aquilo que são quando estão conosco.

As pessoas são ainda mais aquilo que são quando não estão,

As pessoas são diferentes.

São diferentes na impressão, São diferentes na comparação.

As pessoas são aquilo que não mostram, o que não dizem, o que não fazem.

As pessoas são autocarros de passagem que levam diferentes rotas,

Mas partilham o destino.

As pessoas são pessoas, ninguém é de ninguém.

Nem a mim mesmo me pertenco.

As pessoas são estranhas pois são estranhas a elas mesmas.

A TOADA MARGINAL

a víbora é entronizada no matagal da solidão.

 

as palavras buscam o oásis nunca encontrado da comiseração.

 

as palavras que repulso estão no forno da angústia gerando versos fundamentais.

 

a sincronia das palavras com os compromissos que enriquecem os sermões.

 

a transumância das palavras faz-se por lugares estéreis ou depauperados.

Se eu não quiser ler

Vejo tanta gente,

Marinheiros gramaticais,

,Num mar de sentimento

Sonhos irreais ou apenas passatempo.

 

Acreditam no talento,

Menos no trabalho,

Se procuras rendimento,

Investe num dicionário.

 

Jamais irei julgar,

O teu direito de escrever.

Mas não começes a chorar,

Se eu não quiser ler.

 

 

O CLARÃO ÉTICO

o infante traz consigo o bafio da paternidade interpondo-se entre ele e as suas prendas afetivas.

 

na textura humana apuram-se contingências que desesperam.

 

o fraseado das preleções gera diversas espécies de tédio.

 

quando o vulgar entendimento se transmuda em ideal.

 

as palavras libertam rumores aprovados pela consciência.

 

 

O VOO CREPUSCULAR

ressoei dilemas agitados em gaiolas sensitivas.

 

verto os enleios duma farsa junto ao sucesso desabrido.

 

aqueles que nos violentam quando se colocam no centro de conflitos amovíveis.

 

os sentimentos esvoaçaram contra as falésias aguçadas das ilusões.

 

persigo o ritmo dum sonho espancado por olhares carrancudos.

O TUGÚRIO ESCALAVRADO

guardei as façanhas dentro dos copos que vou tirando de prateleiras reforçadas.

 

as palavras que o sol vitima nas querelas e falácias rotineiras.

 

os danos que a indulgência transporta para o lado da sensaboria.

 

um poeta brusco escava brechas por onde repuxa a liberdade.

 

neste mundo sombreado relevo as palmas oprimidas pelo acinte e pela inveja.

 

 

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