páginas timbradas
Autor: António Tê Santos on Friday, 5 August 2016as manobras inúteis dos trovadores para converterem a poesia em dilemas de leitura obrigatória: ela só é lida nas inclinações duma moda arrefecida pelos ribeiros das recordações.
as manobras inúteis dos trovadores para converterem a poesia em dilemas de leitura obrigatória: ela só é lida nas inclinações duma moda arrefecida pelos ribeiros das recordações.
espezinho as trevas no desenrolar duma agreste pronúncia que subjaz ao meu estado de alma ou saio para recuperar a ardência na calmaria duma serra onde perfaço anos de brandura para ver esta miscelânea abrir uma inocente flor.
a poesia tem um véu que eu poiso no lugarejo da juventude acoplado à gente aprazível que desembrulhava pacotes de luar: as preces geram deceções e o estouvamento desculpa esta bizarra maneira de esculpir o silêncio.
os poemas insuflados pelos sentidos exprimiam as duras quadras em que eu desandava no quintal da prepotência: os escaparates que abocanhei tergiversando pelas veredas do cativeiro (cheio de superstições).
há palavras que surpreendem ao deslaçarem raios de luz que iluminam as estruturas pérfidas: ingressam em cavernas que traumatizam quem se desdobra no julgamento das falsas ressonâncias amorosas.
versejo as lombas da saudade entre os anzóis corroídos pela delação e a falácia que empurra os numerosos gladiadores; sou um perito cingido ao grande coração coletivo, estoirando de ternura quando os abraços se imprimem.
esbanjei a virtude em barcos que feriam quando os cordames se atavam à sensibilidade para que fosse detraído e enfim soçobrasse coberto de hipocrisia: esta vassalagem deu-se por cargas sucessivas do rancor no cerne da solidão.
relevo o sonho como uma benesse requintada, presa a uma asa que adeja pelos céus; entendo que a sua fusão com a contextura beneficia quem abalroa a tristeza com devaneios que submete a uma investigação.
a angústia cai numa lixeira, as facécias que apuro estão junto das regras triviais: escrevo poemas que guardo no meu património; escrevo-os com uma voz moderada no terreno amplo da lucidez.
as mensagens que eu sustento para me projetar no espelho das ilusões rasgando trouxas junto ao umbral que a ansiedade subjugou: são rastilhos de esperança com que estrangulo a negligência legando ao meu repouso variegadas cintilações.