a flor austera
Autor: António Tê Santos on Saturday, 2 July 2016há páginas cruentas com poemas redigidos por gente que sustenta um sopro suavizando a ideia de morrer; que transporta no peito uma cruz amortecendo qualquer espécie de decisão.
há páginas cruentas com poemas redigidos por gente que sustenta um sopro suavizando a ideia de morrer; que transporta no peito uma cruz amortecendo qualquer espécie de decisão.
a bazófia de quem vive unindo o corpo às mãos no gesto veloz e repetitivo de quem impulsiona um deus castigador a timoneiro das crendices e dos adulterinos procedimentos: eis quando as palavras são glorificadas pelos métodos triviais dos enigmas e da perpetuidade.
estou num lugar onde a mão dos homens não chega precedendo a grande autoridade que não esquece a insolência do seu cordeiro ao se excluir de qualquer clã, refletindo a coragem de estar ao comando das suas deliberações.
as páginas movem-se para o lugar da saudade transferindo todo o sentido para as minorias que estoiram na relação com a despedida: o fulcro está num poente lisonjeiro e nos desejos que dirigem o viver calculista dos homens, as palestras retomando o fulgor nas cumeadas do decesso.
a alma aperalta-se junto dum torvelinho de gente que menospreza a linguagem torpe dos vilões; a hipocrisia embebida em sucessos dessa gente expressa jornadas vigilantes e substanciais: é o verso que lhes dá cor no momento em que a pasmaceira é assaz cinzenta.
há palavras que maquinam sermões ferruginosos entrando pelas frestas de janelas impúberes: elas colocam a liberdade sobre balanças intransigentes e resistem pelo seu autocratismo.
as festividades empurram o horizonte deprimido do homem conferindo-lhe uma solidez aparente; este, porém, transfigura-se numa marioneta potenciando os seus fracassos com danças exasperantes.
a concha aberta do amor está nas tendas oficiais onde as feridas nunca cicatrizam; onde a proeminência das guerrilhas se faz disfarçando a morte entre os bastios da ironia; onde as imperfeições imortalizam um brado austero e exalçam os gumes dolorosos que o amor contém.
a guerrilha dos homens pratica-se num chiqueiro avantajado onde se cometem barbaridades que estoiram no solo absoluto das convicções; carreiam recados adúlteros com dúvidas sagradas por decifrar.
os versos que trago na ideia amarrotam as querelas que circulavam junto ao portal da ansiedade; insistem nos vocábulos que fazem da poesia um lugar imaterial; recordam os trastes que as convicções transpuseram para onde a adversidade estertora.