os poetas enigmáticos afirmam-se misturando saliva com ternura em figurações que cabem numa terra de palavras; ressoam transfusões que veneram cantigas de bem dizer ou infringem os usos com os seus exageros.
reflito como um viajante insólito trilhando caminhos enobrecidos por conversas oriundas de valores soltos pela estimada poesia; e transformo essas reflexões em pétalas que caem de edifícios esplendorosos.
pensei em ti numa noite desesperada em que a solidão transpareceu e uivou como se fosse uma máscara que eu apanhasse do chão; como se eu te houvesse ofertado lágrimas de outono na primavera; como se a alegria só existisse nos primórdios duma relação consequente e estética.
são caminhos de névoa aqueles que revolvem os tempos de adolescência onde a serpente mostrava a sua crueldade em demonstrações que faziam bailar a própria morte.
cânticos d'alma orvalham em florestas d'aguarela (ou agonizam nas barricadas românticas): são hinos anunciados por um intenso algor, recados melífluos que a sensibilidade transmudou em versos derramando paraísos globais.
a nomenclatura acanhada dos homens perfura os costumes inválidos ou cresta em animações de rua quando arromba os registos que sobram da baixeza ou da paixão; a ansiedade corporiza os momentos trágicos ou cómicos que advêm dessas ações transformando a sapiência em socalcos de pedraria.
aquilo que a reflexão urde para comparar tristezas nas ondulações notívagas como se houvesse outros sentidos que enriquecessem a única mansão iluminada; o carro elétrico que passa dá-me alento para decifrar enigmas a fim de que a nostalgia deixe de prevalecer nos meus sonhos.
a andadura começa com gente que sufoca baseando-se num sentimento que flutua junto ao seu coração: as veias dilatam-se, o desejo é uma estampa rasurada pelo vento e as iniquidades são o vácuo duma empreitada transcendental.
os apelos de quem explora uma estrutura que o preenche com dísticos de polidez que o elevem acima da destreza simiesca e que colaborem na solução de equações em páginas que o fogo arrase quando há facécias a burlar os ciclos da poesia.
a ligação dos antros às brigas populares, o sistema prático de entender os idiomas que vão e vêm em cantilenas supérfluas, o devaneio antropológico de transferir os conflitos para outros lugares.