castos dizeres
Autor: António Tê Santos on Wednesday, 25 May 2016um trajo cinzento desloca-se a minha frente quando vigorosas controvérsias assomam à janela dos sobressaltos mas os corretivos que a poesia retorce expandem fraternais sugestões.
um trajo cinzento desloca-se a minha frente quando vigorosas controvérsias assomam à janela dos sobressaltos mas os corretivos que a poesia retorce expandem fraternais sugestões.
as palavras que ecoam no meu casarão escondem-se da má-sorte implorando por indulgência: é o oceano que acode nas vastas experiências literárias; é a sensação de partir numa cruzada que desbarata o sofrimento.
╭✿
Ensina-me a não pedir dos outros
O que eu mesma não posso dar
Ensina-me a não apontar para as falhas alheias
- Mas aprender com elas
Que eu sinta o pedido da minha Alma
E que eu possa aceitar-te, Senhor
Ensina-me a ser capaz de amar e de ver
As virtudes através de atitudes de quem prática o bem.
Ensina-me a ter força e coragem
Nas minhas lutas, alegrias e dores
Ensina-me a ser alegre e otimista
Para que não perca tempo a olhar para trás.
Ensina-me a ter sempre uma palavra
há trombas d'água investindo nas tubagens adjacentes aos caminhos abandonados onde as palavras resultam dum ócio glorificado quando as pautas chilram cantigas e o vento as leva para as serranias da agudeza.
foi a escassez de prazer que me pôs a nadar contra o vento no oceano da monotonia; foram os castos dizeres a perturbarem-me com adivinhações engendradas por uma confraria de heréticos: foi quando a alma endureceu.
catapulto mensagens sobre as funestas lembranças que me fazem progredir retomando a leitura de opúsculos que me baratinam a consciência: é o mistério prensado na banheira onde eu lavo os remorsos; é a sideração dum trambolho emocional que se conta em muitas palavras.
coloco-me na antevidência duma jornada que se concebe incendiando o matagal onde se escondem alguns escritores talentosos: nas suas obras há filamentos da própria cultura esticados num apego constante à clivagem e à fantasmagoria.
as metáforas jazem nos pedestais da agonia urdindo contundências; ribomba a má-sorte progredindo nos terreiros onde reclamam as criaturas: os seus protestos admoestam as ladainhas e suspendem as ilusões.
há um dileto ressurgir que invalida os dizeres antigos onde concretizo o sonho de tagarelar sobre factos que estoiram na barriga do diabo no intento de imprimir versículos que distribuam toalhas limpas sobre os esfiapados lugares do tédio.
as palavras sustentam a monotonia esfraldada até ao portal da ansiedade com puras intuições que interferem na minha evolução: patológicas quando me obrigam a usufruir da liberdade até à exuberância que faz ricochete nos versos.