alojei os meus bailados no camarote da solidão; no âmbito duma existência acidentada; no desdobrar das imperfeições que me fizeram tresloucar; na terminologia das minhas fúteis desavenças.
enxuguei as lágrimas para escrever poesia; para que o temor não perturbasse o desenredo das minhas angústias; para que a roda-viva dos instintos se quedasse nos antípodas duma existência pacífica.
as minhas atuações criticam as palestras retrógradas; odoram os vocábulos penetrantes da poesia; aspiram transformar o lazer numa sublime comunicação; dilatam a esperança que nasce do meu criterioso labor.
inscrevo o meu fulgor na banca dos triunfos; no sótão das minhas desventuras; nos degraus que ascendi para granjear a sabedoria; nos bailados ébrios que realizei; nas formaturas da humana condição.
Há sinais de vida ao redor.
Estou calmo e quieto em minha casa,
como um móvel sóbrio.
Às vezes me enfado com o clima,
outras vezes com os dilemas da vida.
Faço do hoje o amanhã -que antecipo-
para não protelar-me inutilmente.
Resvalo em problemas como todo mortal,
mas submeto-me ao destino, que conforma
meus passos.
Sempre dou um jeito de me virar, para que
prevaleça em meus planos, apenas o que
me faça bem.
valorizo as minhas querelas dando-lhes um lugar relevante junto das virtudes que apurei; golpeio a farsa mundana através dos meus vocábulos enérgicos; controlo as minhas emoções através duma intrínseca harmonia.
instalo-me no estendal da harmonia com a arte de quem fotografa o seu juízo vigente; o séquito dançante das suas aptidões; o testemunho dos seus esclarecidos ideais; a nomenclatura jubilosa que o faz acreditar na sua sensibilidade.
combato a náusea de viver através duma poesia que repreende a gente esfarrapada que me torneia; que suprime as duras contendas onde me escoriei; que ludibria as monótonas atuações humanas.
a minha verve narra os espantosos horizontes que colori e onde se vislumbram penhascos abruptos; os jardins etéreos que projetei do fulcro da minha imaginação; as minhas jornadas em torno das vãs promessas humanas.
hoje falo das práticas marginais daqueles que alcançam o desespero de morrer em vida; das transviadas sensações que os conduzem a uma pobreza espiritual; dos sórdidos apetites que os malquistam com as suas capacidades.