o pedestal da alegria
Autor: António Tê Santos on Saturday, 5 August 2023não há nenhum cais onde a genuinidade possa atracar porque ela esbarra sempre numa ordenação que proíbe o seu trânsito para que ela não se imponha à hipocrisia que a rodeia.
não há nenhum cais onde a genuinidade possa atracar porque ela esbarra sempre numa ordenação que proíbe o seu trânsito para que ela não se imponha à hipocrisia que a rodeia.
regulo a sensibilidade pelas minhas violentas convulsões: são nichos de amargura que transfiro para a razão; são lágrimas consentâneas com a minha vida mundana; são façanhas agrestes que transformo em poesia.
destapo os mistérios que a minha lucidez respira quando perfilho atitudes sensatas: quando permaneço firme no núcleo da monotonia enquanto as minhas reflexões constroem um palácio esmerado onde habita a literatura.
renego a vida quando os seus despautérios atingem o auge da indignidade: os seus persistentes calafrios e as suas brigas desapiedadas; as suas metamorfoses emocionais e os seus abundantes dilemas.
recuso as baixezas do dia-a-dia porque o meu vigor não reside nos artifícios usuais da humana condição (quero transverter esta ideia para uma máxima lucrativa que exorte a penumbra ascética que me convém).
remonto uma serrania escarpada onde me isolo das celeumas mundanas; onde regurgito as minhas mágoas e as minhas frustrações; onde lego ao mundo os testemunhos da minha ulterior alegria.
PEGA A SUA CRUZ E SIGA-ME
Falar é fácil, o difícil é carregar a cruz.
No meu calendário:
Quem dera se todos os messes fossem apenas 28 dias!
Quantos dias a menos eu teria para carregar a cruz!?
Quem dera se um ano fosse apenas 28 dias, ao invés de 365...
Então, eu estaria com "784" anos, e vivenciando 28 anos.
Antes um ano era, 365 dias e 6 horas, agora acredito que as 6 horas criaram asas e voaram enquanto eu dormia para não vê-las.
sinto um enorme desconsolo quando integro na alma os meus manifestos recalcitrantes; os meus sentimentos anexados pela malignidade envolvente; as minhas posturas estouvadas nos bailados que interpretei.
sufoco as tentativas de reaver a alegria quando me detenho no círculo do medo e da turbação; quando transponho para o meu caráter as dívidas emocionais que contraí; quando trucido a esperança que vagueia pela minha intimidade.