o crivo da experiência
Autor: António Tê Santos on Friday, 6 October 2023há quem se adorne de virtudes para compensar a sua arrogância; para cingir uma esperança que só existe na sua fantasia; para mitigar o desespero gerado pela sua ruindade.
há quem se adorne de virtudes para compensar a sua arrogância; para cingir uma esperança que só existe na sua fantasia; para mitigar o desespero gerado pela sua ruindade.
há quem agite as consciências para remover os seus delitos; para refrear as suas desbragadas crispações; para corrigir os que desprezam os afáveis sentimentos; para se opor às evasivas de quem não motiva a benignidade.
há gente perversa a exercitar os seus arremedos de decência; a transferir do seu âmago os tópicos que sustenta para infamar os homens de bem; a atraí-los para as suas existências corruptas.
transporto na mente os sermões balofos dos homens e os seus degredos malvados que me conduzem até onde as promessas de amor se evolam e a hipocrisia se intromete no fascínio de viver.
quero pertencer aos eleitos que transformam as suas reflexões em diamantes; que retorcem os fuzis que silenciam os ecos benignos que produzem; que narram os paraísos sublimes onde habitam.
as utopias que eu verti na minha existência transfigurada... os diplomas que eu esfarrapei quando fui mentor dos meus próprios juízos... os dilemas que eu aboli através da poesia...
impugno aqueles que recheiam de malvadez as suas afirmações; que instigam as querelas sórdidas para brandirem os seus ódios profundos; que se instalam numa tribuna de onde vociferam palavras brutais.
eu finjo que ignoro os despudorados exemplos que retorcem os horizontes humanos; que derramam uma imponderação que confunde aqueles que buscam a veracidade; que irradiam menosprezo pelas genuínas emoções.
a sublime estrutura que nos abraça quando redigimos poesia: quando facultamos aos leitores o nosso incremento; quando sacudimos as consciências com os nossos versos influentes; quando topamos a alegria através da nossa razão.
os meus dissabores foram transformados em obstáculos angustiantes; em ideias obsessivas que ecoaram nos meus fracassos persistentes; em vocábulos que foram absorvidos pela minha poesia; em anseios frustrados que caminharam lado a lado com a loucura.