descrevo as peripécias que caracterizaram a existência que há muito abandonei; os ferimentos que transferi para a poesia para olvidar os meus sintomas irascíveis; as protuberantes avaliações que efetuei para criticar os valores sociais
convoco a azáfama de outrora quando suspendo a lucidez para restaurar um ambiente soturno; quando transponho a fronteira da razão para promover os meus devaneios; quando manifesto ansiedade nos meus tresloucados pareceres.
colocam-se flores no pedestal onde jaz uma figura eminente: onde o povo se maravilha com a coragem ou a sabedoria de quem honrou a nação; onde venera aquele que escalpeliza com diatribes corrosivas; onde a vida se perpetua através duma aura que resiste.
na cidade recolhi ideias que divulgaram a farsa inscrita na existência malfadada dos homens: transferindo para os meus versos as suas malevolentes atuações; dissecando neles a fragilidade da sua evolução.
a náusea enregela nos ambientes soturnos que repudiamos porque uma grande firmeza vaticina a nossa mudança; porque os alvoroços insalubres cedem o lugar a novos sentimentos; porque a genuína liberdade é iluminada pela nossa evolução.
a lucidez entrou pelo umbral da consciência e fez oscilar o meu destino entre a nociva gente que não renuncia à malignidade e a solidão dos eruditos que comentam as atrocidades das multidões.
aumenta o bem-estar quando ultrapassamos o despovoado da solidão para nos plantarmos num oásis intelectual; numa realidade amplificada pelas nossas utopias; numa estrutura imune aos tumultos que nos rodeiam.
desejo que a benevolência cruze as fronteiras do medo para influir nos nossos atos diários; que a esperança frutifique nos lugares insípidos onde a turba enregela; que a náusea de viver desapareça dos nossos horizontes atormentados.
observo os passos dos homens para evidenciar as dívidas que eles contraem ao sentimento religioso; a sua hipocrisia que transita para a esfera da malignidade quando eles desprezam a sorte dos seus adversários; as inúmeras contradições que destapam a sua grande penúria moral.
trago na ideia os ajustes à minha condição quando tiranizo a consciência para obter os resultados fecundos da mudança; quando recrudescem em mim os exemplos de galhardia e de solicitude que contestam a malignidade abrangente; quando perece o desencanto nos meandros da existência que inventei.