ondulo nos regatos encrespados da poesia com os meus numerosos destemperos; com a álgebra que vou coligindo no meu provido farnel; com os atributos que procuro nas minhas concisas redações.
desenvolvo os meus pensamentos através de metáforas que capturam narrações pungentes; que transformam em sabedoria os espaventosos eventos humanos; que desagregam os usos quando contestam a existência banal.
envolvo as reflexões numa formosura consentânea com o meu fôlego poético: divulgo-as com um encanto que vibra no oásis que inventei; amplifico-as nas jornadas que conduzem à minha redenção.
eu recolho a inspiração nas minhas utopias; nas mensagens que incorporo na fileira do raciocínio humano; nas fórmulas que tipificam as minhas atribulações; nos itinerários do meu isolamento.
louvo a mente sublime dos poetas que fintam o desconsolo; louvo as danças frenéticas que potenciam quando borrifam o mundo com os seus devaneios; louvo a esperança que injetam no coração dos seus leitores.
há muralhas por derrubar numa atuação que ligue a minha existência à roda-viva da poesia: que desloque para o recheio da comunicação o meu perfume de solitário; que transfigure a nomenclatura do mundano entendimento.
a essência do poeta está na profusa teia de conceções que ele transmite através da sua imaginação; através das gestas requintadas que ele descreve aos seus leitores; através dum prolongado lazer que benfeitoriza o mundo derredor.
utilizo uma nomenclatura que me protege dos temporais; que atravessa as minhas contendas para me brindar com escritos basilares; que me liberta dos dissabores para que eu possa abranger uma sublime liberdade.
vale a pena contradizer a idolatria gerada pelo desespero que nos atormenta; vale a pena abolir as deambulações por roteiros que nos mobilizam contra a lucidez; vale a pena abraçar o regozijo que emerge da nossa razão.
junto ao pilar das antinomias está o ser humano com as suas disputas vorazes; com os seus motins e as suas humilhações; com a sua existência fingida acampada em cenários desfocados.