José Basto

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Sobre mim

Sou assim, sem o ser.
Gosto da lareira, é certo. Dá segurança, conforto, estabilidade. É agradável a carícia do calor.
Mas o excesso de conforto destrói a face iluminada do Homem.
Na planície, pelos vales cá em baixo, tudo é mais linear, mais cómodo, menos arriscado. Como naquelas casas muito arrumadas, com cada coisa no seu lugar e um lugar para cada coisa.
É precisa essa paz, de quando em quando, faz bem ao coração. Até o amor, se existir.
A bica a horas certas, um encontro a horas certas, a cama certa. Até, ironia do destino, um cravo vermelho a horas certas, bem programado, civilizado, sanitized.
Mas a vida tem de andar lá em cima, no alto dos frios e das neves, sem cama certa. Seria acolhedor existir um coração por perto. Como um espelho, onde nos olhássemos e revíssemos, como pela manhã. Ou pela hora mística do crepúsculo, na interioridade profunda da noite.
Mas a paz excessiva destrói. Os ritos tornam-se banais, perde-se o seu sentido mágico. A dimensão do mistério em tudo escoa-se como areia entre os dedos.
Talvez, um dia, possa chegar ao cume e, na paz do olhar perdido na distância, estender a minha compaixão aos seres que se agitam e sofrem sem nunca saberem a verdade, no terror da morte. Talvez, então, possa compreender as suas pequenas lutas e paixões, a sua frenética agitação, as suas alegrias e tristezas.
Descerei, então, às aldeias, e ouvirei as suas histórias, tão simples, que são todo o seu mundo.
Talvez te encontre a ti, que não sei quem és. Falaremos das pequenas coisas que preenchem o quotidiano. Tentarás dizer-me que ando por caminhos inseguros, porque volto sempre ferido e cansado dos trilhos da montanha.
Depois, num dia de sol, voltarei a subir para pernoitar nos abrigos perdidos da floresta, entre as rochas carcomidas pelo tempo.
E assim, passaremos. Deixando traços como pirilampos na noite, que o tempo apagará indefectivelmente.
Nessa hora olharemos, quem sabe, para trás, na inquietação de deixarmos amargurados este mundo. Como se existisse um passo que carecesse de justificação, ou uma estrada real.

Olho o rio, que corre ali em baixo, entre duas margens, a margem que não sou, a margem que não quero. Sigo, em sonho, o rio.
Lá atrás, perdido, na ponte entre duas margens numa tarde quente de Inverno, fica o meu corpo, olhando, insone, os ulmeiros verdes e, mais além, algumas faias encostadas na sombra das colinas.

Onde estarão os habitantes deste país? Que corpos são estes, que se movem como sombras na névoa? Frios, distantes, tão irreais como pesadelos vivos?!
Meu deus, tantas palavras! Tão longe, todos os alfas e ómegas desta estranha vida, neste universo de realidade fatal.

Obras literárias

Se tenho aqui papel e lápis, por que razão hei-de escrever sobre mim?

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