Vento

Porque vais e continuas a voltar, vento?
Contigo trazes tudo,
E tudo de toda a parte,
Mas tudo é tanto,
Tudo é avassalador.
Pergunto-me quando vens,
As viagens que percorres não te pesam já na idade?
Pois eu já deixei de viajar,
As rugas caíram sobre mim como peso morto
E, por enquanto, só me restam as memórias de onde estive.
Não sei quanto tempo tenho
Até a idade começar a deturpar essas memórias
E transformá-las em visões turvas e confusas.
Vento, esse frio que é teu,
Não mo transmitas.
Não quero frieza, não quero tudo.
Quero apenas um pedaço de ti,
Simples e cru, apenas a ti,
Guardado num jarro, em cima da mesa de cabeceira
Para quando partir,
Meu velho companheiro Vento,
Seres a única lembrança pura e transparente
Que levo comigo.

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