QUEIXUME
Não,
Não me venhas dizer que não foste tu,
Que me arrancaste o sono das noites brancas,
E em dores me encerraste com mil trancas;
Que me atormentaste como algoz de prisão,
Fazendo-me chorar a dor da solidão;
Quando tu, fera impiedosa,
Zombavas da minha dor chorosa,
E me fazias sangrar o coração.
Não,
Não me venhas dizer que não foste tu,
Que me fizeste fazer versos à Lua,
Chorando a ausência tua;
Quando tu te rias cruel,
Com risos de desprezo e fel,
Fazendo-me chafurdar na lama,
Por me ter queimado na chama,
Desse teu sedutor olhar,
Que só me soube humilhar,
E ver-me ajoelhar,
Preso nas redes da trama,
Desse teu sádico e macabro drama.
Não,
Não me venhas dizer que não foste tu!
Não me venhas dizer que não foste tu,
Que me fizeste deambular louco pelas ruas,
Gritando ao vento as saudades tuas;
Que me fizeste verter lágrimas amargas,
Andar com passadas largas,
Atrás das carícias tuas;
Quando tu, fera insensível,
Me desdenhavas como a um ser desprezível,
Banhando-me de humilhação,
Sem qualquer contemplação…
Não,
Não me venhas dizer que não foste tu!
E agora chegas-te com ar sisudo,
Dizendo que não foste tu, negando tudo,
Olhando-me com olhos doces,
Como se fosses
Um anjinho de veludo.
Não,
Não me venhas agora com lamentos falsos,
Querendo apagar os infames traços,
Da tua crueldade;
Querendo cobrir a maldade,
Dos teus insidiosos laços,
Com um falso gesto de bondade.
Não,
Não me venhas dizer que não foste tu!
Helder Oliveira
(Helder de Jesus Ferreira de Oliveira)