Passado

Que futilidade a minha, que raiva

Pensar no que fui e não saber o que sou

Que angustia que eu trago comigo

Nada mais trouxe a não ser o presente

 

O passado.. mas que passado?

Se tudo o que eu fui

Ficou lá trás

Não volta mais!

Mas que passado?

 

De que falam vocês?

Vozes mesquinhas!

Eu não tenho passado

Não tenho presente

Quem saiba tenha futuro

Eu nada sou, nada fui, nada ficou

Eu nada tenho, nada tive, nada sustenho

E ainda me falam do passado

 

Eu sinto nojo de mim,

esqueci tudo o que fui

nem vozes, nem olhares

nem sentimentos, nem lugares

NADA! Ouviram? Nada!

 

Podia ter o mundo, o tudo e mais o tudo

Mas escolhi ter o nada, em que nada me afundo

E nada me lembro, nada me contento

Só momentos de felicidade

que voaram com o vento

 

Ah, que bom seria se eu fosse feliz

se eu pudesse lembrar-me de o ser

se tivesse a certeza que já o tivera sido

eu hoje podia morrer!

 

Mas porra da vida, puta da dor

que me persegue, me aniquila

me transforma, me mutila

Me prende, me desprende

me agarra, me mata

É só a dor!

 

Passado? Querem falar do meu passado?

Calem-se gente egoísta

Eu sei que errei, pintei o mundo de preto

sei que mudei, sei que mal falei

sei que xinguei, sei que usei

Mas é passado!

Eu nada sou, nada me lembro

E se errei eu lamento

Sou humana, que humana errante

Foi humilhante 

dizer ao mundo que

eu anda sei!

Porque eu não sei!

Nem de onde vim, nem para onde irei

Nem o que fui, nem o que serei

Sei que hoje sei

Que eu algo fui, mas não me lembrei

porque é melhor esquecer

do que viver com  lembrança do que não se pode ter

daí correr, daí fugir, desaparecer

é só medo de sofrer!

 

Passado? Deve ter sido algo 

Não agradável, não fiável

algo de inútil, tão ingrato

E se foi algo já foi muito

Se tudo o que me lembro

foi de vestir de luto

pela minha própria vida.

 
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