Serenata (A UMA VIZINHA)

Vae serena, desmaiada,
Entornando luar no azul,
A lua, taça quebrada
Dos festins do rei de Thule.

As estrellas maceradas
São como beijos de luz,
Ou lagrimas condensadas
Do martyrio de Jesus.

Serena como uma prece,
Cariciosa como um ninho,
A via-lactea parece
Estrada feita de arminho.

Estrada feita de arminho
E flocos alvinitentes,
Que talvez seja o caminho
Para a morada dos crentes.

Curvam-se os lirios abertos,
Escutando o som da aragem,
E os rouxinoes dão concertos
Sob as folhas da ramagem.

Na atmosphera encantada
Anda a vibrar soluçante
A voz doce e requebrada
D'um bandolim tremulante.

Oh dona de olhos sensuaes
--Olha o luar tão bonito!
Façamos os esponsaes
Do nosso amor infinito.

Vamos vibrar os harpejos
D'uma serenata louca.
As notas, serão meus beijos
E a guitarra... a tua bocca.

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