Lyrica chineza
I
Lembra-me a hastea comprida
Dos lyrios brancos em flôr,
A elegancia apetecida
Do seu corpo tentador.
II
Da sua côr singular
Dá uma ideia leve
A pallidez do luar,
Batendo um floco de neve.
III
Nem o breu, nem o carvão,
Nem a noite sem estrellas,
Têm a densa escuridão
Das suas tranças tão bellas.
IV
A sua bocca, a sorrir,
Quando mostra os alvos dentes,
Lembra perolas d'Ophir
Entre dois rubís fundentes.
V
Das suas fallas suaves,
Ao som commovente e lêdo,
Cessam os cantos das aves
E as folhas ficam de quêdo.
VI
O seu meigo olhar luzente
Nem sei bem o que revela...
Lembra um lago azul, dormente,
O dulcissimo olhar d'ella.
VII
Da sua mão pequenina,
Disse o imperador chinez:
Dava o throno, o sceptro, a China,
Pel-a beijar uma vez.
VIII
Quanto ao pé--que perfeição!--
Eu nem citarei mais factos:
Cabem na palma da mão
As fórmas dos seus sapatos.