PALAVRAS RASGADAS – I

PALAVRAS RASGADAS - I

A flecha só morre no pássaro, quando a luz
se apaga e o canto se escreve!
É nessa dor que começa o poema
de palavras rasgadas,
como se a alma quisesse libertar
das suas amarras
as frases contidas no sentimento,
que o momento sente, vive e reproduz
injetando nelas o ar para respirar.
Soltas e desenfreadas
fluem livremente à velocidade
que a mente prescreve,
divagando na inspiração!
São como o cântico das cigarras,
livre e selvagem, ressoando
quando o dia perde a luz.

Espontâneo e intemporal, o poema
corre galgando alegrias e dores
ao sabor de uma corrente,
que leva emoções na viagem
do seu sentir! Vogando no dilema;
canta tristeza, fala de amores,
chora no riso, pulsa na saudade,
reage pragmático à visão romântica!
Esmaecendo-se nos costumes ténues,
reabre asas à compreensão e perseverança
ante agonia telepática de uma imagem
desfocada, em semelhança com a frase
que ecoa deslocada, por dialética semântica.

A poesia é o lírico idioma do espirito,
grito do inominável, o urro do imprevisto,
onde respiram pensamentos sequiosos,
que geminam mensagens fortes e sensíveis.
Renega a vileza do ultraje, da tortura
e, de todos os impropérios obsequiosos,
proferidos em tom caustico e mordaz,
por alguns cretinos insensíveis,
que vão surfando a onda da desventura.

Exterminem versos, capitulam frases,
censuram e condenam sem julgamento
o que o poeta escreve e chora nas tardes.
Eles não sabem, que a poesia é o mágico sentir
um fluir que habita e percorre o sentimento.
É a inspiração que chega de mansinho,
pedindo para ficar! Pedindo para não partir.

Rasgam-se as palavras,
o verso esvai-se, mas não termina,
a poesia não falece! Floresce.
O poema não germina! Mina.
Estará sempre presente erguendo os punhos
contra aqueles que na sua falsa verdade,
disfarçam a maledicência,
sob os ornatos da modernidade.

João Murty