MEDITAÇÕES SOBRE THEMAS DO ECCLESIASTES
I
_A Celestino Steffanina_
Vaidade de vaidades, disse o Ecclesiastes: vaidade de vaidades, e
tudo vaidade.
(_Capit. I, v. 1_).
Semeador de iniquidades,
Porque é que mandas sobre os teus eguaes?!
O mando o que é? _Vaidade de vaidades_,
Fumo que ao desfazer-se engrossa mais...
Oh minha vista o que é que foi que viste
Cá neste mundo impiedoso e rudo?
_Que só a vaidade existe_
--Em todos nós, e em tudo!...
II
_A Israel Anahory_
Todas as coisas são difficeis; o homem não as póde explicar com
palavras. Os olhos não se fartam de vêr nem o ouvido se enche de
escutar.
(_Capit. I, v. 8_).
Palavras são palavras... Nada dizem.
Teias d'aranha que jámais impedem
Que as ideias se escapem e deslizem...
Nescios os homens são quando procedem
Como quem a verdade sempre traja
E nunca della se encontrou despido...
Difficil é... o que mais simples haja
--Quanto mais o que fôr mais escondido!...
Para que uma verdade vá julgar,
Para que um sentimento vá sentir,
Olhos: não vos canceis nunca d'olhar
E vós, ouvidos, não deixeis d'ouvir.
Mas por fim
Nem assim...
O mais profundo pensamento
É sempre insubsistente e aerio,
Por que a todo o momento
--Se perde no misterio...
III
_A José Barbosa_
Que é o que foi? É o mesmo que hade ser. Que é o que se fez? É o
mesmo que o que se hade fazer.
Que é o que foi?
--O mesmo que hade ser...
A vida é como o passo egual dum boi
Que vem dos campos ao anoitecer;
Com o seu lento e resignado aspeito,
Andou um passo, e logo um outro dá.
_Tudo quanto foi feito
De novo se fará_...
IV
_A Ladislau Patricio_
Os olhos do sabio estão na sua cabeça: o insensato anda em trevas:
e aprendi que era uma e mesma a morte dum e doutro.
(_Capit. II, v. 14_)
O sabio tem os olhos da razão
Além desses que tu na fronte levas,
Oh nescio que sem guia e sem bordão
Vaes pela vida a caminhar nas trevas...
(_E d'ahi? E depois?
Se surge um incidente,
Fere indistinctamente
Ou ambos elles, ou qualquer dos dois_...)
V
_A Adelaide Gil, minha irmã_
Todas as coisas caminham a um logar: de terra foram feitas e em
terra se hão de tornar do mesmo modo.
(_Capit. III, v. 3_).
Mas o que é, afinal, a perfeição?
Como é que tudo, oh sabios, evolue
_Se as coisas todas caminhando vão
Para um egual e unico logar,
Se o pó que as constitue
Em pó se hade tornar_?
VI
_A Eduardo Graça_
Todas as coisas teem seu tempo e todas ellas passam debaixo do céu
segundo o termo que a cada uma foi prescripto.
(_Capit. III, v. 2_).
Socega, coração attribulado,
De toda a dôr se apaga todo o traço.
Pois quanto ao mundo vem, traz já marcado
_O seu tempo e tambem o seu espaço_...
E queira Deus, coração,
Que esta hora de anciedade
E de pranto e d'afflicção
--Nunca te cause saudade!...