Mãos sombrias
Não tenho nada
Somente meu corpo
E desejos aos quais não consigo sustentar
Junto ao peso em minha cabeça
Grito, grito ao mundo
Nada de errado eu fiz
Mas ninguém acredita
Ninguém confia em mim
Vivo a mentira que sou
Nunca me desejaram
E nunca desejarão.
Estorvo
Assim me sinto
Um peso, amarrado aos outros
Como um parasita
Já quis a morte
Mas até mesmo essa infeliz
Rejeita-me
Como a carniça
Que nem mesmo os abutres cobiçaram
O erro foi ter nascido
O erro foi a esse mundo vir
Eu sou o erro.
Vivo num escuro impenetrável
Meus olhos aqui me enganam
E penso poder descansar
Em meio a esse cego nada
Em meio a essa imensidão vazia
Mas mostro-me mais uma vez errado
Nem mesmo aqui estou sozinho
Nem mesmo aqui estou em paz
Eles sempre me encontrarão
Sempre descobrirão uma nova forma de me humilhar
E o toque das mãos sombrias
É tudo do que eu fujo
Queria ser inalcançável
Poder sozinho ao menos um dia
Descansar
A paz encontrar.