O vento também chora
Autor: Frederico De Castro on Wednesday, 22 July 2015
Um dia destes
descobriremos outros cantos
percorrendo enamorados
todas as delicias que
orquestrámos nesta existência
manifesta em palavras
sincronizadas assim, neste poema
quase por reverência
– Um dia destes
depois de me esquecer do tempo
entoarei empírico
tantos versos quantos
nossas almas gémeas se reproduzam
acesas pela resiliência
onde resplandecemos imunes
a qualquer acto impenitente
de pura impaciência
… porque o vento eu sei
também chora
velado nesta vida tão passageira
– Um dia destes
se nos reencontramos mesmo que
beliscando as saliências dum grito
de complacência
é contigo que compartilharei
mil anos
ou muitos mais de excelência
até que os destinos permaneçam
camuflados
sem ponto final nem parágrafos
ou cláusulas contratuais
apenas o que resta
na respiga dos ventos que choram
consensuais
– Um dia destes
decifra-me se puderes
desfaz-te em aragens perfumadas
no tempo que amadurece
desabita-me a solidão
não me dês condolências
antes de partir
recolhe somente estas palavras
no vagar de cada anuência
onde deixarei memorizado
o que sou
de mim
já sem nada de nós
apenas inactuais esperanças
breves e momentâneos desenlaçes
até que recobre desta imprevisível loucura
num teorema onde me sirvo
matemáticamente das tuas
sôgregas e inexoráveis semelhanças
FC
Género: