Cinza

Apareceste como és e eu apresentei-me como sou.
Nem te vi chegar, como chega a noite, primeiro um bocadinho, e depois completamente.
Debrucei-me titubeante sobre ti, fui ridículo. Sem charme. Longe da tua perfeição tão pura, tão simples.
Sorriste-me, deslumbrei-me. Falaste-me dos teus sonhos,e eu sonhei. Beijaste-me, e eu nasci.
Seguraste-me, e eu vivi. Apaixonei-me. Dei-te. Deixaste-me, e eu morri. Não recebi. Deixei-me. Esqueci-me.
Olho no espelho, e não me vejo. Só te vejo a ti. A olhares para mim, tão suave como uma nuvem. Tão efémera como  uma estrela cadente.
Um fogo que me incendiou, e que depois de um espectáculo de luz, deixou tudo resumido a cinza. Poeira. Nada.
Tudo é vão porque tudo acaba, realização depressiva que me convenço em dias mais realistas.
Dias que são meses de frustração, meses que são anos de sofrimento, anos que são uma vida de ilusões, de vapores, de cinza.
Um espectáculo de luz que nos cega durante a nossa existência, para quando não mais conseguirmos arder, nada restar para além daquilo que fomos enquanto ardemos.
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