RESIGNAÇÃO
«No teu seio reclinado
Dormirei, Senhor, um dia,
Quando for na terra fria
Meu repouso procurar;
Quando a lousa do sepulchro
Sohre mim tiver cahido
E este espirito affligido
Vir a tua luz brilhar!
No teu seio, de pesares
O existir não se entretece;
Lá eterno o amor florece;
Lá florece eterna paz:
Lá bramir juncto ao poeta
Não irão paixões e dores,
Vãos desejos, vãos temores
Do desterro em que elle jaz.
Hora extrema, eu te saúdo!
Salve, oh trevas da jazida,
D'onde espera erguer-se á vida
Meu espirito immortal!
Anjo bom, não me abandones
Neste trance dilatado;
Que contrito, resignado
Me acharás na hora fatal.
E depois... Perdoa, oh anjo,
Ao amor do moribundo,
Que só deixa neste mundo
Pouco pó, muito gemer.
Oh... depois... dize á mesquinha
Um segredo de doçura:
Que na patria o amor se apura,
Que o desterro viu nascer.
Que é o céu a patria nossa;
Que é o mundo exilio breve;
Que o morrer é cousa leve;
Que é _principio_, não é _fim_:
Que duas almas que se amaram
Vão lá ter nova existencia,
Confundidas n'uma essencia,
A de um novo cherubim.»