A ROSA.
Pura em sua innocencia.
Entre a sarça espinhosa,
Purpurea esplende, inda botão intacto,
Na madrugada a rosa.
É da campina a virgem
A pudibunda flor;
Em seus efluvios matutina brisa
Bebe o primeiro amor.
O sol inunda as veigas:
Calou-se o rouxinol;
E a flor, ebria de gloria, á luz fervente,
Desabrochou-a o sol.
O sôpro matutino
No seio seu pousára:
Prostituida á luz, fugiu-lhe a brisa,
Que a linda rosa amára.
Bella se ostenta um dia;
Saúdam-na as pastoras;
Dão-lhe mil beijos, gorgeando, as aves;
Voam do goso as horas.
Lá vem chegando a noite,
E ella empallideceu:
Incessante prazer mirrou-lhe a seiva;
A rosa emmurcheceu.
Desce o tufão dos montes,
Os matos sacudindo;
Desfallecida a flor desprende as folhas,
Que o vento vai sumindo.
Onde estará a rosa,
Do prado a bella filha?
O tufão, que espalhou seus frageis restos,
Passou: não deixou trilha.
Da sarça a flor virente
Nasceu, gosou, e é morta:
E a qual desses amantes de um momento
Seu fado escuro importa?
Nenhum, nenhum por ella
Gemeu saudoso á tarde;
Não ha quem juncte as derramadas folhas,
Quem amoroso as guarde.
Só da manhan o sôpro,
Passando no outro dia,
Da rosa, que adorou, quando a innocencia
Em seu botão sorria,
Juncto do tronco humilde
O curso demorando,
Veio depositar perdão, saudade,
Queixoso sussurrando.
De quantas és a imagem,
Oh desgraçada flor!
Quantos perdões sobre um sepulchro abjecto
Tem murmurado o amor!