A COSTUREIRA, E O PINTASILGO MORTO. (_Lamartine_).
Tu cujas azas tremulas
O meu olhar tornava;
Cujo trinado harmonico
Meus dias alegrava,
Ai, já não ouves!--Chamo-te,
E é vão este chamar!
Chegou a estação gelida;
Foi para te matar.
Nunca me has-de esquecer! Por bem seis annos,
Companheira leal
Tu me foste, avesinha;
Meiga entre as meigas, desprezando os campos,
Deslembrada da mãe, que, á noite, aninha
No movel cannavial.
A ti, affeita a mim, affiz-me em breve.
Meu unico recreio
Era brincar comtigo.
Ao veres-me encerrar no pobre alvergue
Gorgeiavas, e o tedio o canto amigo
Volvia em brando enleio.
Meu amor te suppria a liberdade;
Meus passos traduzias,
Meu gesto, meu falar;
Repetias-me o nome em teus modilhos;
Punhas-te a chilrear
Quando sorrir me vias.
Oh, que par! Que viver sereno e sancto!
Estavamos tão bem!
Nosso parco alimento
Com a ponta da agulha eu mourejava,
E dizia scismando:--o meu sustento
É o delle tambem.»
Sementes varias dava-te co' a alpista,
E, qual ramalhetinho
Feito na orla do prado,
Á 'splendida gaiola atar me vias,
Para debique teu, de herva um punhado,
De alface um tenro olhinho....
Se ao menos fosse licito
Saberes que pranteio!..
Ai, foi em dia identico,
Que teu adejar veio
Fazer brilhar o jubilo
Neste triste aposento,
Onde em saudosa magua,
Sósinha te lamento!