Anatomia da solidão

Beautiful Music by John Barry (The Scarlet Letter, 1995)

Tatuei no tempo
 
todas as marcas onde
 
desenhei um momento
 
seguinte
 
disperso no passado
 
circunstancial ao lugar
 
imergindo flagrante em todas
 
as marés onde ocorro
 
pra tuas lágrimas enxugar
 
 
Rebusquei nos austeros dias
 
um momento de inspiração
 
onde me refaço a cada alvorecer
 
promulgando cantos de liberdade
 
onde por fim me ausento e embebedo
 
até a saudade se calar
 
inteira
 
prostrada
 
 
Em actos condimentados
 
de poesia em celebração
 
sei que valeu a pena
 
quando invadi tuas
 
existências ancoradas
 
a estas latejantes palavras
 
assomando até ao altar
 
dos céus mais longínquos
 
enfeitando-nos o tempo
 
que nos separa contíguo
 
ao preciso momento onde nos
 
instigamos ao amor proliferando
 
assim tão exíguo
 
 
Pelos sulcos desta vida
 
feita de despedidas
 
acendo todas as lamparinas
 
da esperança que nas
 
veias reacende e guia
 
cada chama que restou em nós
 
cada eco aludido em vão
 
ou breve rumor acometido
 
e visionado no instante
 
que se apressa em celebração
 
 
Assim me abrigo nos teus
 
prantos
 
e depois mergulho em todos
 
os silêncios exactos
 
patrocinando a esta simples
 
página de vida
 
todo o desbravar dos teus horizontes
 
onde lavro a anatomia da solidão
 
 
 
Por fim até o céu se embeleza sublime
 
na expectativa mensageira dos ventos
 
onde mesclamos os tempos
 
ali vagando unânimes
 
alimentando a gratidão
 
e as sílabas em delícias subtilmente
 
ancoradas no calendário da nossa
 
exacta monotonia
 
vestida a rigôr
 
monitorando o tempo e cada espera
 
que desespera em sincronia
 
FC
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