*IDYLIO D'ALDEIA*
Oh! que harmonia!
Cadente s'esvoaça pela fresta
D'um visinho postigo!
(Hostia d'ouro)
Não sei que ha que me impelle
Para o teu escuro olhar!...
É mais branca a tua pelle,
Do que o linho de fiar!
É tua boca um botão,
E o teu riso a lua nova;--
Quem me dera ter na cova
Os _ais_ do teu coração!
Mal podes saber o gosto
Que tive da vez primeira
Que te avistei, ao sol posto,
Debaixo d'esta amoreira!
Desde esse dia, andorinha!
Desde essa tarde infeliz,
Fiquei preso da _covinha_
Que fazes quando te ris!
Não sei que ha que me impelle
Para o teu escuro olhar!...
É mais branca a tua pelle
Do que o linho de fiar!
A minha alma não descança;--
Morra o sol, ou surja a aurora,
Só tu me lembras _creança_
De cabellos côr d'amora!
A tua doce ignorancia
Tão cheia de _singelesas_...
Faz todas as almas presas
Como as perguntas da infancia!
Tu és como um pomo d'ouro,
E o vivo sol que me alegras;
--Amo mais teu rir sonoro
Do que a voz das toutinegras!...
Quando eu fôr a enterrar,
N'algum dia, ao pôr do Sol,
Quero levar por lençol
Só a luz do teu olhar!
..........................................
--Mas tu só vives cantando!--
E ao vir da fonte com agoa,
Mais sentes que estou penando,
Mais te ris da minha magoa!
Ah! nunca eu tivesse o gosto
Que tive da vez primeira
Que te avistei, ao sol posto,
Debaixo d'esta amoreira!