*A UM LYRIO*
(A. A.)
Conta como é que existe
A tua vida á luz,
Lyrio mais casto e triste
Que os olhos de Jesus!
Quando nasceste, flor?
Quem te arrancou do chão?
Gérou-te occulto amor
De morto coração?
Ó lyrio delicado!
Ó lyrio branco e fino!
Talvez fosses creado
N'um seio femenino!
Escuta ó lyrio amado!
A flor confunde os sabios...
Talvez fosses os labios
D'aquella que hei amado!...
Talvez fosses seus dedos!
Seus olhos innocentes...
--Conta-me os grãos segredos...
Profundos das sementes!...
O morto que se enterra
Leva as paixões secretas?...
Dize, se sob a terra,
Se amam as violetas!
Ouviste aves chorosas,
E o mar nos seus delirios?
--Quem é que pinta as rosas?
--Quem é que veste os lyrios?
Já viste alguma estrella?
Viste uma lua nova!
--Abriste n'uma cella?
--Floriste n'uma cova?
O que é que mais desejas
De tudo quanto existe?
O amor?--O que é que invejas
Bom lyrio branco e triste?!
Ó vil sorte mesquinha!
E eterno desejar!
--Invejas a andorinha
Que vôa pelo ar!?