Que Aborrecido!
Autor: António Nobre on Thursday, 22 November 2012
Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a bocca a bocejar sombrios:
Deslizam vagarozos, como os rios,
Succedem-se uns aos outros, egualmente.
Nunca desperto de manhã, contente.
Pallido sempre com os labios frios,
Oro, desfiando os meus rozarios pios...
Fôra melhor dormir, eternamente!
Mas não ter eu aspirações vivazes,
E não ter, como têm os mais rapazes,
Olhos boiando em sol, labio vermelho!
Quero viver, eu sinto-o, mas não posso:
E não sei, sendo assim, emquanto moço,
O que serei, então, depois de velho...
Bellos-Ares, 1889.
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