*Poentes de França*
--Ó sol! ó sol! ó sol! poente de vinho velho!
Enche meu copo de S. Graal (deu-m'o a ballada...)
Ó sol de Normandia! Occidente vermelho,
Tal o circo andaluz depois d'uma toirada!
--Vos sois extrangeiros, vos sois extrangeiros,
Ó poentes de França! não vos amo, não!
--Ó sol, cautella! já a noite se avizinha
O Padre-Oceano vae, em breve, commungar:
Ó hostia vesperal de vermelha farinha,
Que o bom Moleiro móe, no seu moinho do Ar!
Ó sol, às _Trindades_, atraz dos pinheiros,
Á hora em que passam branquinhos moleiros,
Levando farinha p'ra cozer o pão!
--Ó forca do sol-por! ó Inferno de Dante!
Açougue d'astros! ó sabbat de feiticeiras!
Ó sol ensanguentado! ó cabeça fallante,
Que o funambulo Poente anda a mostrar nas feiras!
--Que paz pelo mundo, n'essa hora ditoza!
Ó poentes de França! não vos amo, não!
--_Arco da Velha_, a rir rizos de sete cores!
Ó lua na ascenção! ó sol! ó sol! ó sol!
Cabeça de Iskariote, entre aguias e condores!
Ó cabeça de Christo, impressa no lençol!
Que paz pelo mundo, n'essa hora saudoza
Quando fecha a lojinha a Sra. Roza,
Quando vem das sachas o Sr. Joao...
--Ó sol! ó sol! Titan d'este bloco da Terra!
Ó sol em sangue que ainda pula e arde e scintilla:
Ó bala de canhão, tu vens d'alguma guerra:
Varaste os corações d'um exercito em fila!
--Ó hora em que as agoas rebentam das minas...
Ó poentes de França! não vos amo, não!
--Ó poente verde-mar! ó por-de-sol de azeite!
Ó longes de trovoada! ó céu dos ventos sues!
Vacca do Ar, a mugir crepusculos de leite
E roxos e cardeaes e amarellos e azues!
--Ó hora em que passam moças e meninas
Que, em tardes de Maio, vão às _Ursulinas_,
Com rozas nos seios e um livro na mão...
--Ó sol! ó sol! Tragico, afflicto, doido, venho
A tua saude erguer a minha taça ardente!
Meus grandes olhos são dois bebedos, e tenho
Dlirium-tremens já, Sir Falstaff do Poente!
--Eu amo os poentes, mas sem agonias,
Ó poentes de França! não vos amo, não!
--Adeus, ó sol! chegou a Noite na fragata,
A tua porta os marinheiros vão bater:
Lá vejo os astros por seus calices de prata,
Na _Taverna do Occaso_, a beber, a beber...
Ó céus phtysicos, cuspindo em bacias!
Ó céus como escarros, às _Ave-Marias_!
Ó poentes de França! não vos amo, não!
Pariz, 1891.