Pantheismo, ao estilo de Empédocles
Númerosos são os fogos que queimam debaixo da terra profunda
Racham a superfície - com plutónicas lágrimas.
Em suas feridas os mares se instalam
Sim, repousa no maro suor da terra.
E dos sais cristalizados pelos raios de Sol,
Se formou a verdura, entre terra e água.
Como é bela aquela flor sem pernas,
Cresce pequenina margarida, cresce,
Que o desequilíbrio criador das épocas do ano
Trará em ti o sentimento da multiplicidade
Pois tuas pétalas quererão ser elas próprias.
Ó rochedos - legados de matéria endurecida -,
Dizei-vos feitos de pedra mas a água dissolve a vossa união.
Ó montanhas de terra erguida!, de ti copiámos
O caminho da terra p'ra o céu; culpindo a pedra com formas tuas.
Ó árvores que sem roupa sobrevíveis à impiedade invernosa.
O tronco que se ergue é o mesmo
Que se abre até ao fruto dos seus ramos
E assim se divide sem se dividir.
Lua, que penso agora em ti, que injustiça te fizemos por acharmos que, na alteridade das tuas formas - ora redondas, ora delgadas -, viámos, talvez, aquela mentira semi-feminina, de quem procura nos jogos de sombra, insinuar o seu aspecto preferido.
E na galáxia nossa que em seu ântro guarda um monstro berrante,
Vede na sua forma de carácol como tudo tende e se afasta
Para o centro!
blá blá blá blá...