Palheirão

Palheirão

Fomos para um lugar isolado onde costumo pescar quando quero estar só, um deserto de mar e dunas; na areia da praia caminhavam gaivotas, pequenas rolas e maçaricos. O mar estava calmo, chamava por nós.

 

O teu olhar e a imensidão do espaço que me envolvia travavam a minha voz. Ficámos em silêncio, nada havia para dizer, apenas para sentir. Neste local, onde o mar canta e sol vê é impossível falar.

 

Nadámos com a vigilância das gaivotas que são minhas amigas, estávamos a rir e senti o teu corpo junto ao meu, levei-te para baixo e beijei-te para os peixes poderem ver.

 

Subimos para um lugar quente e seco no meio das dunas e comemos os seus frutos que matam a sede, as camarinhas. Falávamos com as mãos… Juntámos os nossos corpos e colámos o olhar, era impossível parar, o Palheirão não deixa.

 

Neste lugar, onde o mar e o céu se juntam tudo é possível, não existe tempo, apenas o teu olhar. Saímos do mundo para regressar ao cair da noite. Não havia nada para dizer, estávamos adormecidos de olhos abertos e sorríamos com as estrelas.

Miguel Sousa Santos

(16/01/2015)

 

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