O CANTO DO LIVRE
Autor: Soares de Passos on Thursday, 22 November 2012
AO MEU AMIGO ALEXANDRE BRAGA Gema embora a terra inteira Acurvada a iniquas leis: Esta fronte sobranceira Jámais de rojo a vereis. Oh! ninguem, ninguem a esmaga, Que eu sou livre como a vaga, Que sacode sobre a plaga O jugo d'altos baixeis. Liberdade é o mote escripto No céo, na terra, e no mar! Dil-o a féra no seu grito, E as aves cruzando o ar; Dil-o o vento da procella, A vaga que se encapella, E nos espaços a estrella Em seu continuo gyrar. Dil-o tudo! mas ainda Mais livre me creou Deus Que os astros da altura infinda, Os ventos, e os escarcéos. Eu tenho mais liberdade D'esta alma na immensidade, Pois tenho n'ella a vontade, Tenho a razão, luz dos céos. Eu sou livre! erguendo a fronte Diz-m'o uma voz na amplidão, Quando de pé sobre o monte Me elevo rei da soidão; Quando além do firmamento Alçando meu pensamento, Solto nas azas do vento Meu canto d'inspiração. Eu sou livre! eis minha crença, Nem força contra ella val. Que um tyranno emfim me vença: Triumpharei por seu mal. Triumpharei, que algemado E diante d'elle arrastado, Sou livre! será meu brado Té ao momento final. E que importa que o tyranno, Jurando vingança atroz, Faça erguer, sorrindo ufano, Um cutelo á sua voz? Minha fronte sempre erguida Ha de encaral-o atrevida, E só cahir abatida Ao rolar aos pés do algoz. Mas nunca! pois fôra um preito Dar os pulsos ao grilhão. Tenho um ferro, e n'este peito Tenho um livre coração! Não! jámais serei captivo! Se vencido restar vivo, Cahirei, sorrindo altivo, Sob o punhal de Catão!
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