MARIA, A CEIFEIRA - (IMITAÇÃO DE UHLAND)
Autor: Soares de Passos on Tuesday, 11 December 2012
«Bons dias, Maria: da lida do prado «Nem mesmo te afastam cuidados d'amor. «Se ao fim de tres dias m'o deixas ceifado, «A mão de meu filho te quero propôr.» Promessa é do rico, soberbo rendeiro: Maria, oh! quão ledo seu peito bateu! Seus olhos brilharam, seu braço ligeiro Mais forte nas messes a foice moveu. Soou meio dia: que ardente seccura! Já todos demandam a fonte, o pinhal; Sómente nos ares a abelha murmura: Maria não pára, que é sua rival. O sol esmorece, bateram trindades; Debalde o visinho lhe grita: bastou! Zagaes e ceifeiros se vão ás herdades: Maria, co'a foice, lidando ficou: O orvalho desliza; desponta a seu turno A estrella no espaço, na selva o cantor: Maria, insensivel ao bardo nocturno, A foice incansavel agita ao redor. Os dias e as noites assim por taes modos, Nutrida d'amores, mal sente passar. Tres dias findaram; oh! vinde vêr todos Maria ditosa d'esp'rança a chorar. «Bons dias, Maria: já tudo ceifado! «Lidaste devéras: a paga has de ter. «Emquanto a meu filho, foi graça o tratado: «Quão loucos e simples o amor nos faz ser!» Tal disse, e passava... no peito constante, Ai pobre Maria, que transe cruel! Teu corpo formoso tremeu vacillante, E exhausta cahiste, ceifeira fiel. Um anno a coitada, sósinha comsigo, Vivendo de fructos, vagou sem fallar... No prado mais verde cavae-lhe o jazigo: Ceifeira como esta jámais heis de achar.
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