O BUSSACO
Autor: Soares de Passos on Wednesday, 19 December 2012
Oh! salve irmão do Libano, Que altivo ergues a fronte, Monarcha d'estas serras, Senhor da solidão! Salve, gigante cupula, Que ostentas no horisonte, Erguida sobre as terras, A cruz da redempção! Em teus agrestes pincaros O homem vive e sente Mais longe d'este mundo, Mais proximo dos céos: Por isso, nos seus extasis, O monge penitente Aqui meditabundo Se erguia aos pés de Deus. Por largo tempo o cantico Do pobre cenobita Soou na ermida rude Da tua solidão: Hoje o silencio lugubre Sómente n'ella habita, Silencio d'ataúde Em funebre mansão. Porém se os coros mysticos Findaram sua reza, Se a voz do sancto hosanna Em ti já feneceu; Tu vives, e inda incolume Ao Deus da natureza, Calada a voz humana, Descantas o hymno teu. Oh! como és bello erguendo-te Á luz do novo dia, Que os mantos de verdura Te banha de fulgor! Quando o gemer dos zephyros, Das aves a harmonia, Acordam na espessura Louvando o Creador! Mas quanto mais esplendido Serás quando a tormenta, Sublime, rugidora, Eu teu regaço cahe! Quando de mil relampagos Teu cume se apresenta C'roado, como outr'ora O fulgido Sinai! Quando os tufões indomitos, Rugindo nas escarpas, Se abraçam ás torrentes Com horrido fragor! Depois, em negro vortice, Desferem nas mil harpas De teus cedros ingentes Um cantico ao Senhor! Tu és grandioso; o animo Que a sós aqui medita Recolhe altas imagens De sancta inspiração. Oh! porque veio turbida A guerra atroz, maldita, Soltar n'estas paragens As vozes do canhão? D'um lado eram as bellicas Hostes de Bonaparte; Do outro heroico e ufano O povo portuguez: A liberdade e a patria Ergueu seu estandarte, E a historia do tyranno Contou mais um revez. Tudo passou: sumiram-se Vencidos, vencedores; Té mesmo do gigante Soou a hora fatal: Só tu, sorrindo impavido Do tempo e seus furores, Inda ergues arrogante Teu vulto colossal. E cada vez que fulgido Renasce o novo dia, De nova luz te banhas, Despindo os negros véos; E dizes, em teu jubilo, Ao sol que te alumia: --O rei d'estas montanhas Saúda o rei dos céos. Depois, ao vêl-o pallido Nas vagas do horisonte, Pareces ao mar vasto Dizer com altivez: --Em teu regaço, ó pelago, Tu lhe sumiste a fronte: Avança, que de rasto Virás beijar-me os pés!
Género: