VAES PARTIR!
Autor: Bulhão Pato on Wednesday, 2 January 2013
Vaes partir! cada instante que passa Aproxima o adeus derradeiro, Para mim neste mundo o primeiro, Que teus olhos proferem aos meus! Vaes partir! nessas morbidas palpebras, Treme agora uma lagrima anciosa, Já deslisa na face formosa, Já teus labios me dizem adeus! Vaes partir! contemplar esses campos, Que o sol vivo de abril illumina, Ver as relvas da alegre campina Já cobertas agora de flor. Escutar as estrophes sentidas Que de tarde improvisam as aves, Recordar os instantes suaves De outros dias de encanto, e de amor. Vaes partir! vaes tornar aos logares Testemunhas de um ceo de delicias, Que em suaves risonhas caricias, Para nós neste mundo brilhou! Cada flor, cada tronco viçoso, Cada espaço de relva florída Vae lembrar-te uma scena da vida, Um momento feliz que passou! Quando for aos clarões da alvorada O perfume das plantas mais brando, Quando as aves voarem em bando, E cantarem ditosas no val; Quando as aguas correrem mais vivas, Pelo verde declivio do monte, Quando as rosas erguerem a fronte Animadas de um sopro vital... Que saudade! ai que funda saudade Has de ter d'esse tempo encantado, Em que bella e feliz a meu lado Viste as pompas da terra e dos ceos! Quando a aurora era a pura alegria, Uma vaga saudade o sol posto, Quando meigo sorria teu rosto Se eu fitava meus olhos nos teus! ................................. Vaes partir! cada instante que passa Aproxima o adeus derradeiro, Para mim neste mundo o primeiro Que teus olhos proferem aos meus! Vaes partir! nessas morbidas palpebras, Treme agora uma lagrima anciosa, Já deslisa na face formosa, Já teus labios me dizem adeus! Abril de 1855.
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