CARIDADE

 

Á Ex.ma Sr.a Viscondessa d'Asseca

      Como avesinhas implumes
      Enjeitadas nos seus ninhos,
      Deixa a sorte os pobresinhos,
      Sem lar, sem pão, sem carinhos
      De maternal coração.
      Escutando os seus queixumes,
      Compassiva a Providencia,
      Volve os olhos á innocencia,
      E em sua eterna clemencia
      Da-lhes lar, ensino, e pão.

      Mais vivos torna os desejos
      No seio da caridade,
      Que á desvalida orfandade
      Vai com sincera piedade
      Inundar de puro amor;
      Amor, que em candidos beijos,
      Suavemente procura
      Dar conforto na amargura,
      Aos que fez a desventura,
      Orfãos no berço e na dor.

      A quem busca a Providencia
      Para amparar o destino,
      Do que pobre e pequenino
      Se encontra sem luz, sem tino,
      Logo no mundo ao nascer!?
      Anjos de viva clemencia,
      Que onde existe o sofrimento,
      Correm, voam num momento,
      A dar todo o sentimento,
      Que taes almas sabem ter!

      São ellas mães, são esposas,
      E recordando os carinhos
      Que tiveram seus filhinhos,
      Não podem ver pobresinhos
      Sem amor, sem lar, sem pão!
      No berço desfolham rosas,
      Onde espinhos só havia,
      E o sol de pura alegria,
      Já de affectos alumia,
      Dos orfãos o coração.

      Salve pois, oh Caridade!
      Que assim abres o teu seio,
      Áquelle que sem esteio,
      Á luz d'este mundo veiu
      Para viver na afflicção.
      Salve casta divindade!
      Terna irmã da desventura,
      Que os suspiros da amargura
      Convertes á creatura
      Em risos de gratidão!

Junho de 1856.
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