A VALSA
Autor: Bulhão Pato on Friday, 25 January 2013
Venceste: sou teu, bem ves Quão facil foi a victoria! Cahi-te rendido aos pes. E sem disputar a gloria. Aos _golpes_ da tua mão Expuz logo o coração! Venceste: sinto nas veias Correr o sangue agitado: Todo o fogo do passado Já nos sentidos me ateias. Submisso, humilde, sugeito Ao teu estranho poder Existe todo o meu ser! Em ti palpita o meu peito; E a razão que me delira, Em ti vive, em ti respira, Com teu imperio a rendeste; Sou teu: venceste, oh! venceste! Quanto tempo decorreu Desde aquell'hora maldita? Quanto tempo est'alma afflicta Na angustia se debateu, Sem que um sorriso, um olhar A viesse consolar! Em vão buscava no ceo As scintillantes estrellas; Não via em nenhuma d'ellas Nem formosura, nem lume, E no prado por mais bellas Que se ostentassem as flores, Para mim não tinham cores, Nem encantos, nem perfume! .......................... Uma tarde, era o sol posto, Vi-te assomar á janella; Depois inclinar o rosto Sobre a mão graciosa e bella, E contemplar fascinada, A natureza encantada. A aragem com brando alento Agitava os teus cabellos, E julguei nesse momento Ver-te á flor dos olhos bellos Estremecer cristalina Uma lagrima divina! Sobre o cimo flexuoso Do monte se reflectia Ainda o clarão saudoso Do brando expirar do dia, Quando afogueada rompeu A lua no azul do ceo. Teu seio battia inquieto, E eu senti no coração A chamma do antigo affecto Rebentar como um volcão! De repente os olhos teus Se volveram para os meus. Quizemos fallar, a voz Nenhum a poude soltar; Mas que não dissemos nós Naquelle inspirado olhar!... Uma só vez na existencia O diz a muda eloquencia! ........................ ........................ Entrei no baile! a alegria Saltava no teu semblante, Quando a valsa delirante Rompeu no vasto salão! Era aquella melodia, Que tanta vez a teu lado Me fez batter agitado De enthusiasmo o coração! Ergueste a fronte animada, E em teu rosto se trocou A pallidez namorada Pelo fogo da paixão! Como o teu olhar fallou Antes que dissesse a voz: «Oh! tua outra vez eu sou!» Depois no giro veloz Da dança vertiginosa, Como a tua voz formosa Sobresaltada tremia! Como em tua alma eu vivia!... É que nesse instante Deus Quiz unir as nossas vidas Por um amplexo dos ceos! No horisonte esmorecidas As estrellas desmaiavam Co'os resplendores da aurora Que já no ceo despontavam. Naquella encantada hora Expirou nos labios teus Um suspiro, e um adeus! Um adeus, que promettia... Mas quem pode revelar O que nelle se dizia! A aurora vinha a ráiar E os clarões da manhã fria Acaso viram jámais Tão felizes dois mortaes? ......................... ......................... Desde então ao teu poder, Submisso, humilde, sugeito Existe todo o meu ser. Em ti palpita o meu peito, E a razão que me delira, Em ti vive, em ti respira, Com teu imperio a rendeste, Sou teu: venceste, oh! venceste! Setembro da 1861.
Género: