SÊ FELIZ
Autor: Bulhão Pato on Sunday, 27 January 2013
Sê feliz! Hontem ainda Contemplando o teu semblante, Na sua innocencia infinda, Porém triste nesse instante, Roguei a Deus do mais fundo Mais puro do coração, Que uma lagrima, um desgosto, Uma sombra de amargura, Jámais viesse no mundo, Turbar teu candido rosto. Sê feliz: toda a ambição Que por ti minh'alma encerra É ver-te feliz na terra! Nada mais. O amor profundo, O mais violento embora, Tem sempre na vida um'hora De egoismo, e esta affeição, Que uma só vez na existencia No meu peito se accendeu, Que jámais se ha de extinguir, Tem a pureza do ceo, Proveiu da tua essencia! Se no presente ou porvir, Alguem que te encante a vida Existe ou tem de existir... Não terei zelos... Unida, Para sempre a outro affecto Passarás junto de mim, Embora, direi então: «Sê feliz: toda a ambição, Que por ti minh'alma encerra É ver-te feliz na terra!» E sabes?... ao Creador Dou graças por me haver dado Este puro sentimento Em vez do fogo do amor. Ai! se um dia, no momento De ver-te, te houvesse amado!... Se em vez da chamma suave, Que em meu coração se inflamma, Se ateasse aquella chamma, Se houvesse emfim rebentado Aquelle fatal volcão!... Ai! de mim! quanta amargura! Quanta angustia o coração Não teria já passado! Porem assim!... não, ai! não! Sê feliz: toda a ambição Que por ti minh'alma encerra, É ver-te feliz na terra! Maio de 1854.
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