A FOLHA DESBOTADA
Autor: Bulhão Pato on Monday, 28 January 2013
Volve folha desbotada, Outra vez á mão nevada Que do tronco te ceifou, Volve, e dize sem receio, Que te apertei contra o ceio, Que o meu olhar te adorou: Vai discreta confidente, Dize tudo quanto sente, E calla o meu coração! Vai, que a tua voz sentida, Ha de ser por ella ouvida Com ternura e compaixão. Dize que ao ver um instante Anuviado o seu semblante, Pensativo o seu olhar, De sobresalto e receio, Sinto o coração no seio De repente a palpitar! Que a sonhei antes de vel-a, Como bem fadada estrella, Mensageira do Senhor! Que ao vel-a a voz da consciencia Disse: É esta na existencia A tua estrella de amor! De amor puro, intenso, ardente, Mas que occulto eternamente No meu peito ficará! Que no infortunio nascido, Só commigo tem vivido, E commigo morrerá! Ai! folhinha desbotada! Outra vez á mão nevada Volve de quem te ceifou! Volve, e dize, sem receio, Que te apertei contra o seio, Que o meu olhar te adorou! Maio de 1854.
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