ONDE SE ENCONTRA A VENTURA?

 

      Onde se encontra a ventura,
      Esta encantada visão,
      Que tantas vezes procura,
      Mas debalde, o coração?
      Nas pompas da formosura?
      Nos esplendores da gloria?
      No poder de conquistar
      A mais difficil victoria
      Com o mais timido olhar?

      Oh! como então és feliz,
      Porque tudo te revela,
      Que não ha face mais bella,
      Nem existencia tecida
      De mais florído matiz!

      Porém responde, na vida,
      Quando tu passas radiante
      D'essa luz que emfim só Deus,
      Concede a um anjo dos seus!...
      Quando ouves a cada instante
      Dizer com voz anhelante:
      «Lá chega, lá passa, é ella,
      Que é tão feliz como é bella!»
      Uma sombra de amargura,
      Um sentimento profundo
      Não te opprime o coração
      E não te diz que a ventura
      Se não encontra no mundo?!

      Uma vez, sereno o ceo,
      Como os teus olhos brilhava!
      Airosa ante mim passava
      Essa forma, esse ideal
      Que não pode ser mortal!
      Atravez do raro veo,
      Que o semblante te encobria,
      Uma lagrima descia;
      Era de prazer ou dor!
      Oh! de angustia parecia,
      Pelo agitado tremor
      Com que o peito te battia!
      O mundo não sei se a via,
      Porque a meu lado exclamava:
      «Lá chega, lá passa, é ella,
      Que é tão feliz como é bella!»
      Mas quem sabe se acertava?!
      Porque a ventura real
      Se existe, é só no momento
      Em que livre o pensamento
      Se eleva ao mundo ideal!
      E noss'alma a outra unida,
      Foje á terra, se illumina
      De um raio de luz divina,
      E se esquece emfim da vida!

Julho de 1859.
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